domingo, outubro 19, 2014

Editorial: Parece que Paulo Bernardo perdeu bem mais do que a eleição no Paraná, onde sua mulher foi derrotada no 1º turno‏










Rádio Jovem Pan

As notícias que chegam dos Correios -- empresa que, diga-se, está na raiz dos escândalos que levaram à descoberta da existência do mensalão -- são estarrecedoras. Ironia das ironias: a estatal, que é subordinada ao ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, decidiu, por exemplo, processar o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves. Por quê? Ora, o tucano acusou o aparelhamento da empresa e seu uso em favor das candidaturas de Dilma Rousseff à Presidência e de Fernando Pimentel ao governo de Minas.

Mera guerrilha eleitoral? Não! Há um vídeo em que o deputado Durval Ângelo, do PT de Minas, confessa, com todas as letras, que os Correios foram utilizados em favor dos dois candidatos. Wagner Pinheiro, presidente da empresa, estava presente quando Ângelo afirmou, entre outras barbaridades: "Se, hoje, nós temos a capilaridade da campanha do [Fernando] Pimentel [candidato do PT ao governo de Minas] e da Dilma em toda Minas Gerais, isso é graças a essa equipe dos Correios." Foi adiante: "A Dilma tinha em Minas Gerais, em alguns momentos, menos de 30%. Se, hoje, nós estamos com 40% em Minas Gerais, tem dedo forte dos petistas dos Correios."

Dias antes de esse vídeo se tornar público, descobriu-se que cinco milhões de folders da campanha de Dilma haviam sido distribuídos pelos Correios sem a devida chancela. O Ministério Público deu prazo de 30 dias para Dilma dar explicações sobre as acusações de uso irregular da estatal na campanha. Trinta dias? A eleição ocorre daqui a 17.

Muito bem! Reportagem da VEJA.com de hoje informa que Nilton do Nascimento, diretor regional dos Correios no Mato Grosso, alugou espaço num hotel em Cuiabá, no dia 23 de setembro, e o fez em nome da empresa, para defender, diante de funcionários da estatal, as candidaturas de Lúdio Cabral, que concorria ao governo do Estado, e do deputado Ademir Brunetto, também petista.

Os dois estavam presentes. Mais: o tal diretor decidiu ali usar a estrutura da empresa para enviar a eleitores cartas em tempo real defendendo, então, a eleição da dupla e de dois outros políticos: o deputado federal Ságuas Morais (PT) e a presidente-candidata Dilma Rousseff. Nota: Brunetto e Lúdio não conseguiram se eleger. Mas Ságuas foi reeleito com 7 mil votos.

O PT acusa seus adversários de quererem privatizar estatais. Digam-me: o que se tem aí é ou não uso privado de uma empresa pública. Isso é ou não é privatização? É. E do pior tipo: ninguém recebe nada por ela. O único beneficiado é um partido político e seus apaniguados.

No dia 5 deste mês, a Associação dos Profissionais dos Correios - ADCAP - divulgou uma nota pública lamentando o uso político dos Correios e lembra que a atual direção da empresa, afinada com as orientações do Ministério das Comunicações, mudou em 2011 o Manual de Pessoal e permitiu que gente estranha à empresa passasse a ocupar cargos técnicos e de gerenciamento. Resultado: 18 das 27 diretorias regionais estão em mãos de petistas de carteirinha.

O uso político-eleitoral dos Correios é dessas coisas que deixam de ser denúncias para ser mera constatação da realidade. Essas práticas aqui listadas ferem disposições internas da empresa, violam a Lei Eleitoral 9.504 e configuram, obviamente, improbidade administrativa. Paulo Bernardo, um ministro que se mantinha prudentemente longe de escândalos, está se revelando nesta campanha -- ou, sei lá, foi revelado nesta campanha, não é mesmo?

O PT conseguiu que o TSE, absurdamente, mandasse retirar do ar um vídeo em que um carteiro entrega de porta em porta propagada eleitoral da Dilma. A justificativa é que o filme foi feito com o propósito de prejudicar o PT e que o rapaz apenas executava o seu trabalho. Calma lá! O que aquele vídeo evidencia é que o material não tem chancela nenhuma dos Correios. De resto, fica evidente, o pobre carteiro foi orientado a não falar.

Reitero: por muito menos, o Tribunal Superior Eleitoral já cassou mandatos de prefeitos e até de governador. Parece que o ministro Paulo Bernardo, neste 2014 (ou antes?), perdeu bem mais do que a eleição no Paraná, onde sua mulher, Gleisi Hoffmann, foi derrotada no primeiro turno...

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