quinta-feira, novembro 20, 2014

Corruptos e corruptores

Executivos admitem pagamento de propina, mas alegam extorsão; procurador-geral parece ter razão ao considerar tese implausível
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, parece ter poucas dúvidas a respeito do papel exercido pelas empreiteiras no escândalo da Petrobras. Durante entrevista a esta Folha, afirmou: "Em princípio, é fraude em licitação, lavagem de dinheiro, crime contra o mercado e corrupção ativa".

Segundo Janot, não faria sentido supor que os empresários estivessem sendo obrigados a fazer acordos para burlar concorrências da estatal e distribuir entre si os lotes em disputa. Como, questiona o procurador-geral, alguém pode sofrer extorsão para ganhar dinheiro?

Pelo que se sabe até agora, os montantes envolvidos tornam pequenas as cifras do mensalão, para citar o maior julgamento da história do Supremo Tribunal Federal.

Durante dois anos, o esquema organizado pelo PT com a finalidade de garantir apoio parlamentar no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mobilizou R$ 141 milhões, de acordo com a denúncia da PGR.

O caso da Petrobras, a crer nas investigações da Polícia Federal, movimentou muito mais: R$ 10 bilhões. Talvez ainda exista algo de especulativo nessa quantia, mas não nos cerca de R$ 250 milhões que um único funcionário --Pedro Barusco, ex-gerente-executivo de engenharia da Petrobras-- se comprometeu a devolver.

Tais recursos foram desviados dos cofres da estatal por meio de um conhecido e lamentável mecanismo de espoliação, descrito por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e pelo doleiro Alberto Youssef, que fizeram uma delação premiada.

Contratos da Petrobras eram superfaturados e repartidos entre diversas empresas, que assim ampliavam sua margem de lucro. Por sua vez, servidores e políticos, além dos intermediários, recebiam propinas milionárias --pagas com dinheiro da estatal. Parte do butim alimentava ainda as contas de três partidos: PT, PMDB e PP. Nessa narrativa, todos estão satisfeitos.

Executivos das empresas Galvão Engenharia e Mendes Júnior, no entanto, sustentam versão diferente. Em seus depoimentos à PF nesta semana, admitiram o pagamento de propina, mas disseram que foram alvo de extorsão.

Ambos alegaram que, se não entregassem o dinheiro, seriam prejudicados nos contratos já em andamento, bem como em negociações futuras. Por essa tese, ao menos as duas empreiteiras não teriam participado do suposto cartel.

A argumentação da defesa deve ser levada em conta, e caberá à Justiça dizer quem tem razão. Mas, a julgar pelas informações conhecidas, parece se tratar justamente da hipótese que o procurador-geral da República considera inverossímil.


Editorial, Folha de S. Paulo

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