quinta-feira, janeiro 22, 2015

Especialistas não encontram pólvora nas mãos de promotor morto na Argentina

Não havia sinais de pólvora nas mãos do promotor Alberto Nisman, encontrado morto no domingo (18) com um tiro na têmpora, na véspera de explicar perante o Congresso uma denúncia de acobertamento contra a presidente Cristina Kirchner, em um caso que chochou a Argentina.

Após a morte de Alberto Nisman, que acusou na última quarta-feira (14) a presidente argentina de acobertar o Irã no caso do atentado contra a Amia (Associação Mutual Israelita Argentina) em 1994, Cristina Kirchner, juízes e cidadãos exigem uma investigação a fundo sobre a morte, até agora considerada suicídio.

O chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, pediu nesta terça-feira em uma coletiva de imprensa que a morte do promotor seja investigada "até as últimas consequências" e garantiu todo o apoio institucional para seu esclarecimento.

Viviana Fein, a promotora que investiga a morte de Nsiman, revelou que "o resultado do varrimento eletrônico da mão de Nisman lamentavelmente deu negativo, mas não é um resultado inesperado", declarou à rádio Mitre, sem descartar suicídio.

Fein explicou que em caso de armas de pequeno calibre como a 22 que, segundo a investigação, causou a morte do promotor, a quantidade de resíduos de pólvora pode ser tão ínfima que elimina resultados positivos.

Kirchner voltou nesta terça-feira (20) a utilizar o Facebook para refletir sobre o ocorrido, que desde a madrugada de segunda-feira afundou a Argentina em uma série de suspeitas, alimentadas pelo governismo e pela oposição.

"Acredito que o mais importante é advertir que tentam fazer com o julgamento de acobertamento o que foi feito com o julgamento principal 21 anos atrás: desviar, mentir, tapar, confundir", declarou em referência ao caso do ataque contra a Amia, que deixou 85 mortos e 300 feridos em 1994.

"Os crimes não têm razões, só têm motivos, e na Argentina ainda devemos explicar o mais óbvio e simples", concluiu Kirchner.

Desde março de 2012, é aguardado um julgamento contra o ex-presidente Carlos Menem (1989-1999), acusado de "acobertamento agravado" da chamada "conexão local", que forneceu a logística para realizar o atentado, no qual também estará no banco dos réus o ex-presidente da Delegação de Associações judaicas DAIA Rubén Beraja, entre outros.

Desclassificados x desconfiança
Os cidadãos duvidam do suicídio; líderes de opinião, associações trabalhistas e políticos evitam a palavra assassinato e optam por falar de suicídio induzido como causador da morte do promotor.

Nisman foi encontrado morto no domingo em seu apartamento do bairro de Puerto Madero em Buenos Aires, depois que alguns de seus 10 seguranças particulares alertaram sua mãe que ele não atendia aos chamados.

Na segunda-feira, o gabinete da Presidência anunciou a desclassificação (divulgação) de informação de Inteligência relacionada à investigação do atentado de 1994, solicitada na semana passada por Nisman.

Grupos de oposição convocaram com êxito milhares de pessoas em várias cidades do país, especialmente na praça de Maio, que com o lema "Eu sou Nisman" pediram justiça.

Panelaços e carros buzinando também foram ouvidos em outros bairros da capital, quase na mesma hora em que Kirchner divulgou uma longa carta no Facebook e no Twitter, redes onde foram lançadas hashtags durante o dia chamando-a de "CFKasesina", entre outros insultos.

O governo considera suspeito que o promotor tenha interrompido de surpresa férias familiares na Europa para apresentar na semana passada uma denúncia de 350 páginas que envolve Kirchner.

Avança denúncia
O juiz Ariel Lijo, que recebeu a denúncia de Nisman, também implementou medidas urgentes para preservar 300 CDs com escutas telefônicas nas quais o pedido de investigação de Kirchner se baseia.

Na semana passada, quando a denúncia de Nisman surpreendeu os meios de comunicação e irritou o governo, foi informado que Lijo estava de férias até fevereiro e seu suplente não assumiu o caso.

A Amia e a DAIA convocaram um ato para quarta-feira em Buenos Aires ao qual convidam todos os cidadãos sob o lema "verdade e justiça".

"O êxito das manobras para acobertar o atentado mostra os vínculos entre setores da justiça federal, das agências de inteligência, das forças de segurança e do sistema político", indicou um comunicado do Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS).

O CELS, referência na defesa dos direitos humanos na Argentina, lembrou que a gravidade dos últimos fatos "exige decisões políticas firmes" e exigiu a maior diligência nas investigações abertas.

A assinatura em janeiro de 2013 de um memorando de entendimento com o Irã --denunciado como inconstitucional pela AMIA e por outras organizações judaicas-- tensionou as relações, que eram boas, entre o governo de Kirchner e esta comunidade, a maior da América Latina.

da AFP

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