terça-feira, janeiro 06, 2015

Levy enaltece a fase FHC no discurso de posse

O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, atribuiu ao trabalho de Fernando Henrique Cardoso, como auxiliar do presidente Itamar Franco e, depois, como sucessor dele no Planalto, o sucesso da administração Lula na distribuição de renda e no enfrentamento da crise financeira internacional de 2008. Em seu discurso de posse, Levy comparou o ajuste a ser feito neste início do segundo quadriênio de Dilma Rousseff ao esforço realizado na fase que antecedeu o lançamento do Plano Real, ainda sob Itamar.

Sem mencionar nomes, Levy disse o seguinte: "O reequilíbrio fiscal de 2015 e o cumprimento das metas em 2016 e 2017, como previsto na LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] recém-aprovada, serão o fundamento de um novo ciclo de crescimento, assim como o ajuste nos gastos que antecedeu o Plano Real [gestão Itamar] foi talvez o menos falado, mas não menos importante fator do sucesso da estabilização monetária [governo FHC], que perdura até hoje, sob a eficaz vigilância do Banco Central do Brasil."

Levy prosseguiu: "Assim também como a responsabilidade fiscal exercidata na primeira metade da década dos anos 2000 [gestões FHC e Lula] foi condição indispensável para o Brasil ter sucesso na política de inclusão social de milhões de brasileiros [administração Lula] e, pela primeira vez em sua história, poder conduzir uma política anticíclica eficaz, como fez em seguida à crise global de 2008 [governo Lula], em sintonia com o G20."

Levy não disse senão um amontoado de obviedades. Mas o óbvio nunca foi tão necessário como na Brasília dos dias que correm. Hoje, com a vista embaçada por um tipo de vapor que só o embate político é capaz de produzir, os principais atores da Capital tropeçam no óbvio e, sem pedir desculpas, passam adiante. Não conseguem perceber que o óbvio é o óbvio. Assim, Levy fez muito bem ao proclamar o óbvio em seu discurso inaugural. Foi como se dissesse: "Eis o óbvio: o que nos trouxe até aqui foi um processo que atravessou vários governos. Para avançar, o primeiro passo é parar de ofender os fatos."

Por falta de matéria-prima, o novo titular da Fazenda não teve como incluir o primeiro reinado de Dilma no trecho do discurso reservado às (poucas) referências positivas. Levy deixou tão claro quanto possível que chega para corrigir os erros cometidos nos últimos quatro anos. O Orçamento será lipoaspirado. Haverá ajustes de impostos. Cessarão os benefícios tributários. Os preços continuarão sendo realinhados. Em duas palavras: "A economia se transformará".

Parafraseando Lula, a quem serviu como Secretário do Tesouro Nacional, Levy declarou na fase final do seu discurso: "Talvez nunca antes na nossa história, em períodos democráticos, houvéssemos tido a maturidade, como país, de fazer correções bem antes que uma crise econômica se instalasse." Dito de outro modo: ainda há tempo para evitar o pior.

Nas palavras de Levy, "a economia brasileira tem bons fundamentos". Ele arregaçou as mangas: "Estamos, sim, dispostos a implemtar as medidas necessárias." Mas avisou: "Sem a ingenuidade das soluções fáceis." Pareceu animado: "Vamos trabalhar com afinco na busca dos caminhos que pemitam ao Brasil prosseguir na rota do crescimento econômico." Porém, como quem manda um recado para o alto, disse que o mais importante é "ter persistência para trilhá-los depois que os acharmos."

A prioridade do governo é restabelecer a confiança de investidores nacionais e estrangeiros. E das agências de classificação de risco, que ameaçam rebaixar a nota do Brasil. Considerando-se que, nesse universo, Dilma virou o outro nome de desconfiança, não resta muita alternativa à presidente além de confiar num ministro que votou no seu adversário.

Josias de Souza/UOL

Nenhum comentário:

Laranjeiras do Sul

Laranjeiras do Sul
Laranjeiras do Sul