sexta-feira, julho 17, 2015

Araupel - Invasões, estragos e incerteza



Há exatamente um ano a cidade de Quedas do Iguaçu, região Centro-Sul do Paraná, amanhecia apreensiva e cheia de incertezas sobre o futuro da própria cidade. A madrugada do dia 17 de julho de 2014 foi marcada por uma nova invasão nas terras da empresa Araupel em Rio Bonito do Iguaçu promovida pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). A movimentação começou na noite anterior quando a senha passada pela liderança do movimento aos liderados foi “durmam de botinas”, numa referência que teriam que levantar durante a madrugada, deixar o acampamento improvisado para promover a ocupação da nova área. Hoje eles denominam o espaço de acampamento “Herdeiros da Terra de 1º de Maio”.

Passado um ano, a apreensão e incerteza só aumentaram e Quedas do Iguaçu, onde está localizada a sede administrativa regional da Araupel com 1,2 mil empregados, viu uma nova ocupação tomar conta de suas terras e mesmo com mandado judicial expedido pela Justiça nada foi feito. Em informes publicitários a empresa tem enfatizado que as novas invasões em áreas produtivas da “foram estimuladas pela omissão das autoridades”. Não há indícios de que seja feita uma reintegração de posse nos próximos meses.

Nas duas novas ocupações, uma no mês passado em Rio Bonito do Iguaçu e outra no início de julho em Quedas do Iguaçu, os sem-terra evocaram uma decisão judicial da 1ª Vara Federal de Cascavel que sentenciou que pelo menos parte das terras da Fazenda Rio das Cobras, onde está a Araupel, pertence à União. A sentença foi proferida em uma ação movida pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). A decisão, no entanto, teve efeito suspensivo a partir do momento em que a empresa recorreu.

Anteontem, a juíza Lília Côrtes de Carvalho de Martino emitiu uma nota de esclarecimento na qual informa que a área da nova invasão não está não está nos autos da sentença emitida pela Justiça Federal em Cascavel. Essa área está inserida em uma ação que tramita na Justiça Federal em Pato Branco e que até o momento não houve sentença alguma. Sendo assim, explica a juíza, em nenhum momento foi autorizada “qualquer sorte de invasão, assim como não retirou cautelarmente a empresa ARAUPEL da posse sobre as propriedades envolvidas, tratando-se de invasões violadoras do Estado Democrático de Direito”, diz a nota de esclarecimento.

Repetição

O engenheiro florestal Avelino Badotti Neto mora em Laranjeiras do Sul e acompanha os desdobramentos do caso. Quando ainda era estudante de engenharia ele fez estágio na Araupel e diz que está vendo se repetir a história de duas décadas atrás, quando ocorreram as primeiras invasões que resultaram nos atuais assentamentos Ireno Alves e Marcos Freire, em Rio Bonito do Iguaçu, e no Celso Furtado, em Quedas do Iguaçu. Na época, a região invadida possuía uma das maiores reservas de araucária do mundo que acabou devastada pelos sem-terra.

Os assentamentos que surgiram na área da Fazenda Pinhal Ralo, de propriedade da Araupel, assim como os demais proprietários de terras rurais são obrigados a manterem uma área de reserva legal e outra de preservação permanente em 20%. Diferente das propriedades, a área de preservação permanente não fica concentrada individualmente em cada propriedade, mas no espaço total do assentamento. A área existe, mas segundo Badotti aos poucos as madeiras que tinham alto valor comercial foram retiradas. “Às margens da rodovia você vê arvores, mas por dentro foi retirada a madeira com potencial de comércio”, diz. Houve uma devastação seletiva retirando apenas aquilo que interessava ao movimento.

Para Badotti, o discurso atual do MST é o mesmo da primeira ocupação e é possível que ocorra novas devastações. Ele ressalta, no entanto, que não se deve cair no radicalismo nem de um lado, nem de outro. “Não podemos dizer que tudo o que a Araupel faz é lindo, nem que tudo o que o MST faz é bonito”, avalia. Para ele, o MST não aparenta ter compromisso com a questão ambiental. “No acampamento não existe um engenheiro ambiental, um biólogo ou engenheiro florestal”, observa.

O engenheiro florestal diz ainda que o MST pode ser, sim, um instrumento e tanto para a reforma agrária, mas o problema está no endeusamento das lideranças pelos militantes do movimento. “O MST é dirigido por certas que pessoas que título de ‘deus’ por seus seguidores e isso vira uma seita que leva ao radicalismo”, afirma..


CGN

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