terça-feira, julho 14, 2015

O golpe do golpe

A velha cantilena usada de forma estridente pelo governo petista sempre que se sente acuado já não surte efeito. Mais uma vez, o grito de guerra de um hipotético complô contra o partido está em curso. A estratégia tem uso recorrente. Em momentos distintos, já foi usada para atacar a mídia, as elites intelectuais, os protestos de rua e por aí afora.
Nesse raciocínio, tudo o que contraria os interesses do PT é golpe. No atual contexto, a imprensa divulga os escândalos do petrolão? Trata-se da imprensa golpista. O TCU analisa as contas do governo Dilma? Para o PT é golpe. O TSE investiga se houve recursos de propina na campanha da presidente? Golpe de inconformados, dizem os petistas. A Polícia Federal e o Ministério Público cumprem com independência suas funções? Golpe, dizem eles. Milhões de pessoas ocupam as ruas com críticas ao governo? Trata-se de golpistas de direita, analisa o partido. Ninguém escapa, somos todos golpistas --menos os iluminados do PT.

Para eles, os outros são sempre os culpados de todos os males. Os outros tramam dia e noite para tirar o PT do poder. Não cola mais. Os brasileiros não aceitam mais o engodo.

A quem serve o factoide do golpe criado na semana passada? Claramente uma estratégia do marketing petista, a ideia de propagar com insistência uma mesma mentira, repetidamente, em coro orquestrado, serve para tentar dar unidade e amplitude ao discurso do seu fragilizado campo político. É uma velha receita seguida de novo por todos os níveis do PT, do mais alto escalão ao militante pago para insuflar as redes sociais. Entre lidar com a verdade ou se esconder na mentira, o partido escolheu, de novo, evitar a realidade.

Sabemos todos --inclusive o PT-- que, felizmente, não existe espaço para nenhum retrocesso no sistema democrático brasileiro. O que o partido teme, na verdade, é o funcionamento dos instrumentos da nossa sociedade democrática. 

Existe, sim, um grande golpe em curso --mas ele vem do andar de cima. Um golpe contra os brasileiros que deram ao governo um voto de confiança e que, em troca, receberam um bilhete de entrada para um país em queda livre, com desemprego nas alturas, redução de benefícios trabalhistas, inflação beirando a casa de dois dígitos em algumas capitais, tarifas públicas em aumento crescente.

O mais grave neste cenário é a incapacidade do governo de governar de fato. No lugar do trabalho sério, a bravata. O governo e o PT fariam um enorme bem aos brasileiros se imprimissem à gestão do país o mesmo vigor que despendem ao incorporar roteiros mirabolantes ditados, mais uma vez, pelo marketing da mentira e da conveniência.
Aécio Neves

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